sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Direitos Humanos

No dia de hoje, eu tive um momento muito desagradável.
Há 2 anos e meio, eu mudei de apartamento e consequentemente as crianças foram transferidas para uma escola mais perto.
O horário escolar é das 8:30 às 15, 16h dependendo da série.
Para os pais que trabalham além desse horário, existe um clube onde as crianças ficam depois da escola até 19:30.
Pois então... Meu filho foi transferido para outro clube também.
Desde o começo eu nunca me senti bem vinda pelos responsáveis dessa "escolinha".
Não sei se eles têm algum preconceito com estrangeiros, mas eles sempre me olhavam meio torto, não eram muito simpáticos, o que eu estranhei muito já que todos os japoneses são exageradamente simpáticos e educados.
Até ai tudo bem, não ligo e nem tenho a necessidade de ser sempre bem atendida e recebida.
Até o dia em que fui buscar o João e não sabia que o pagamento era adiantado.
Pois bem.
Eu disse que iria até o banco buscar o dinheiro e já voltava. Se eu não me engano, foi no primeiro dia.
E eu fiquei esperando o João.
Ai aconteceu algo que eu não esperava:
 - Quando você voltar com o dinheiro, você leva o seu filho embora.
Eu fiquei sem reação, me pegaram desprevenida, não consegui processar direito a situação e fui ao banco buscar o dinheiro.
No caminho, conforme a ficha foi caindo e a impotência de não saber responder à altura por conta do idioma, eu comecei a chorar.
Eu moro há muito tempo no Japão e eu nunca me senti tão ofendida na minha vida.
Ninguém havia me afetado dessa forma até esse dia.
Bom, fui ao banco, voltei, respirei fundo, limpei as minhas lágrimas e engoli a revolta e todo aquele sentimento, desci do carro e cheguei muito simpática, educada, fiz o pagamento e peguei o João.
Eu chorei muito! Quanto mais eu chorava, mais eu me revoltava com essa situação.
Eu não podia fazer nada (achava eu) eu dependia daquele clube, já que não tinha com quem deixar as minhas crianças.
E foi assim durante um mês, eu sempre muito educada e simpática ao buscar o João.
Não demonstrei que isso me afetou, não dei esse prazer a ele.
Depois de um mês eu mudei de serviço e não precisava mais que o João ficasse lá, já que os meus horários foram trocados.
Até o dia de hoje.
Fui na prefeitura e eles conseguiram duas vagas a partir de abril.
Mas eu precisava ir até o clube pra pegar toda a documentação e preencher direitinho.
Cheguei lá, me apresentei formalmente e educadamente como sempre.
Primeiro que não me convidaram a entrar, fiquei na sapateira.
Segundo que ela veio me dizendo que como eu havia tirado o João antes de completar um ano, agora seria difícil matriculá-lo novamente.
Tudo bem, até ai estava indo tudo muito bem, tudo muito civilizado.
Até chegar o Sr. Educação!
Mais uma vez foi grosso e rude, me fazendo sair de lá mais uma vez ofendidíssima a ponto de eu me encontrar em lágrimas AGAIN!!!
Durante a minha vida inteira, eu passei por dois momentos de humilhação e pela mesma pessoa.
Sim, já teve outros casos de preconceito e tal, mas nada que conseguisse me atingir e me diminuir dessa maneira.
Quem me conhece sabe que eu não sou de chorar e muito menos de me ofender por qualquer coisa.
Muito pelo contrário, eu sou muito tranquila, muito sossegada.
Mas aquele olhar dele de superioridade, de tipo "sou melhor do que você, seu verme estrangeiro, o que está fazendo no meu país" foi de matar.
Geralmente eu não ligo pra esse tipo de coisa. De verdade mesmo.
Esse tipo de coisa não me atinge, já que toda forma de preconceito é burra e ignorante.
Mas esse cara, eu torno a repetir, conseguiu me atingir.
O que me levou de volta à prefeitura e denunciar no departamento de Direitos Humanos.
Nesse momento ele já foi notificado.
Informaram que não se deve segurar uma criança como refém em hipótese alguma e a não maltratar/ofender/humilhar  nenhum estrangeiro ou qualquer outra pessoa.
Eu não vou mais matricular os meus filhos nesse clube.
E se por acaso eu encontrá-lo em qualquer outro lugar e ele me ofender mais uma vez, eu irei processá-lo.

Agora me pergunto: O que passa na cabeça de um "ser humano" desses?
Quem ele acha que é pra se achar melhor do que eu?
Eu sou estrangeira e vivo no país dele, sim.
Mas isso não justifica ele me tratar como se eu fosse um animal.
Eu sou um ser humano assim como ele. Aliás, eu sou muito mais humana do que esse ser.
Eu pagava o mesmo valor da mensalidade assim como todos os pais japoneses.
Meu filho estuda na mesma escola que todas aquelas crianças.
Qual é a diferença?
Eu sempre fui muito bem educada, principalmente com mestres e educadores, já que eu os respeito muito.
Sempre quis dar um bom exemplo como estrangeira, justamente pra evitar preconceito ou qualquer tipo de maus tratos com os meus filhos.
Mas não adianta. Esse tipo de gente existe em todos os lugares.
Muito mais do que gostaríamos que existisse.
Se eu tivesse dado motivos, ainda seria mais compreensível, mas mesmo assim injustificável.

Fica ai a dica para todos os estrangeiros que sofrem ou sofreram qualquer tipo de humilhação, preconceito ou danos morais: DENUNCIEM!
Todos têm esse direito!

Logo depois, estava eu fazendo uma busca de emprego e a tradutora me disse:
 - Tem algumas empresas que não contratam estrangeiros.

Sim, eu já sabia disso. Mas por ter acabado de passar por aquele momento infeliz, me deu vontade de chorar de novo. E tudo culpa da atitude daquele japonês.
Eu sei que eu vou superar isso e que logo vai passar.
Mas ninguém deveria passar por isso e, de agora em diante, seja quem for, eu irei denunciar.

Independente se gosta ou não da pessoa, educação deve estar em primeiro lugar. Sempre!
Eu não admito e ninguém deve admitir esse tipo de comportamento.
Principalmente quando não damos motivos e nunca tratamos ninguém mal.
Respeito é bom e todo mundo gosta!

Me contem se vocês já sofreram algum tipo de preconceito e como foi =)

Poly Uno -


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